Sempre, sempre me inspiro em viagens. E agora está decidido:
vou viajar sempre com caneta e papel próximos de mim, pois muitas já foram as
ideias perdidas em viagens. Depois eu tenho resgatar, mas a memória
simplesmente não permite.
Alguns dos textos aqui, provavelmente a maioria, foram
concebidos em viagens. E eu diria até que eles seriam bem melhores se
estivessem sido escritos no momento em que tive o pensamento sobre eles, mas
isso não foi possível.
Agora, graças ao laptop, ainda que tardiamente, eu consigo
captar uma reação um pouco mais próxima do que senti nesta viagem.
Estou a caminho da minha amada Belém, indo reencontrar a
família, certamente a base e elemento mais importante da minha vida nesta
terra, desta vez por um motivo especial: o casamento de uma amiga que fiz no
colégio e, com a graça de Deus, a amizade dela perdurou até anos depois, a
ponto de me fazer parte de um momento que tenho certeza será um dos mais
importantes de sua vida.
Pulada essa parte, chego ao que me interessa, o que pensei
durante a viagem. Queria “simplesmente” ser agraciada com um supercérebro, um
que fosse capaz de registrar aquela visão, linda, linda, linda, possivelmente
única que tive. Em algum lugar, sobrevoando a Amazônia (provavelmente desmatada
pois estávamos, àquela altura, no sudeste do Pará, porém isso é o de menos),
ali havia um tapete de nuvens, finas mas bem brancas, refletindo a luz do sol,
interessantemente tecidas como um tapete com aqueles vão lineares e, por essas
frestas, era possível ver uma cidade, ali, no meio da Amazônia. Eu supus ser
Marabá, pelo tamanho, porque parecia em parte com arruamento organizado, em
parte não, mas sinceramente não faço ideia de que cidade era, porque
provavelmente ainda estávamos mais distantes de Belém. Fato é que as nuvens branquinhas
cobriam aquela misteriosa cidade e se tornavam como que de cor âmbar bem em
cima da cidade, por causa das luzes das ruas, e em pequenos vãos lineares permitiam
que se avistassem as ruas e os pequeninos pontos de luz. E a imagem não para
aí. Sobre as nuvens, um céu, azul marinho (que amo tanto), lindo, lindo,
superestrelado, com a estrela de vênus bem acima e uma lua minguante
incrivelmente brilhante, que, como disse, fazia as nuvens refletirem
branquinhas, ou seria cor de prata? Ah, espero um dia lembrar dessa paisagem
linda!
Tudo isso me fez lembrar que, provavelmente, a segunda
profissão que quis ter foi ser escritora. Sim, escritora. Eu me lembro, disso
eu tenho certeza, que a primeira coisa que quis ser quando crescesse foi
professora. Na verdade, essa vontade permaneceu em mim até hoje, apenas não foi
concretizada, porque um horizonte enorme de possibilidades descortinou-se
enquanto eu crescia e percebi que dar aulas poderia ser feito concomitante com
outras atividades. Tudo bem que cresci e vi que não era bem assim, desta vez,
foi o monstro da timidez que me freou e, mais tarde, a necessidade formal (e
material, no meu caso) de ter um conhecimento prévio sobre didática. Mas eu
ainda chego lá, está na lista de projetos.
Sei dizer que, graças ao mundo “virtual”, o qual considero
bem real, apenas uma forma diferente de se relacionar e expressar com o mundo
(sem julgamentos a priori sobre ser isso bom ou ruim, outro dia falo a
respeito), eu posso hoje escrever, ainda que não sendo escritora. E o pior
(modo de dizer), ainda há gente a se identificar de alguma forma. Ainda no
assunto da escrita, sempre me identifiquei com a poesia, no sentimento, na
percepção, porém jamais consegui alcançá-la. Eis que, no ensino médio, me
aparece uma tal de prosa poética e, então, descobri que ali era o meu lugar...
Também me lembrei de um episódio muito interessante, de quando
estava na sexta série. A professora de redação pediu para escrevermos uma
redação sobre o que queríamos ser quando crescer. Lembro-me bem de ter escrito
que a primeira profissão que quis ter era ser professora, lembro que passava
por ser arquiteta, por ser cardiologista e, por último, ser promotora de
justiça (era a vontade atual na época). O interessante é que a redação
terminava com uma frase do tipo “mas quem sabe amanhã eu não mudo de ideia”.
Não lembro se disse que queria ser escritora ou ser “música”, talvez por
vergonha não, mas agora confesso. Sei dizer que a professora praticamente
insistiu para que eu confessasse que não havia escrito o texto sozinha e que
tinha tido ajuda de meus pais e, só então, eu percebi que provavelmente havia
escrito um texto bom (inclusive, ela não me deu nota máxima porque julgou que
eu não tivesse feito sozinha a redação). Depois disso, mostrei para os meus
pais a redação e virou sensação em casa, foi mostrada para a família etc.
Porém, essa redação, que queria tanto poder ler hoje, com meu olhar de hoje,
perdeu-se. Talvez alguém tenha uma cópia (é, lembro que alguém tirou cópia) ou
esteja bem guardada, mas fato é que não consigo ter acesso hoje.
Esse texto vai ser publicado, do jeito que está, espero ter
coragem. A ideia desse blog nunca foi escrever para ninguém, nem usar do
português mais correto, coerente, coeso ou lógico, mas registrar os pensamentos
de quem um dia quis ser escritora, mas acha (melhor, tem consciência) de que
seu talento não é suficiente para isso (ou que faria outras coisas melhor) e,
principalmente, que tem dificuldades de se expressar de forma oral, mas
precisa, como todos precisamos, descarregar os sentimentos, as ideias, as
angústias e as alegrias. Ah, e enxergar a vida de forma poética, como quando vi
aquela cidade sob aquelas nuvens e aquele céu lindo.
É por esse motivo que o nome do blog é rascunhos, porque o
quero é tão somente registrar algo que possivelmente perderia se anotasse em
algum lugar, como aquela redação que gostaria de reler, cuja inspiração ainda
me lembro bem, assim como lembro das inspirações de algumas viagens, mas cujas
ideias ficaram presas naquele momento e, uma vez perdidas, sinto muito, não
voltam, tal qual o tempo que, implacável, só segue para frente (se bem que
Einstein disse o contrário, mas deixa ele de lado por hoje).
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